domingo, 9 de dezembro de 2012

Batalha dos Livros

Aproveitando o espeço aberto pelo Cinese, chamei o pessoal, duas vezes, para participar da Batalha dos Livros. A ideia é juntar gente que gosta de ler e trocar figurinhas. Pra organizar,  a batalha foi feita no melhor estilo escola de samba. Eis os quesitos:

1. Melhor enredo 
2. Melhor personagem 
3. Melhor passagem 
4. Melhor recomendação


Na primeira edição, ganhou Berenice, do Racine (confira o post no blog do Cinese aqui). Dessa vez, a vencedora foi euzinha! Então, pensei: o proposito inicial deste blog anda meio abandonado... vou aproveitar a preparação para as batalhas e dar pitaco nos meus livros guerreiros:   Quaestio de Centauris, do Primo Levi (que ficou em honroso segundo lugar na primeira edição) e Campo Geral, do Guimarães Rosa. Essa semana eu volto com os textos!

domingo, 8 de julho de 2012

Memória voluntária e memória involuntária

Demorei meses para terminar de ler No caminho de Swann, só fiz um postzinho. Tenho medo de escrever sobre esse livro, medo de dizer alguma besteira. 
Mas não posso trocar o pitaco da vez sem uma despedida digna. Especialmente porque a retomada desse livro me proporcionou momentos de escapismo sem precedentes e não vejo a hora de ler os 5 volumes faltantes para sentir o mesmo novamente. Só que vou dar um tempo (a idéia é ler A Divina Comédia, mas tive um problema com a primeira tradução que peguei e agora a vontade deu uma esfriada). 
As anotações de leitura são várias. Mas vamos ficar apenas com as palavras do próprio Proust sobre memória voluntária e memória involuntária e a criação do artista:


Para mim, a memória voluntária, que é sobretudo uma memória da inteligência e dos olhos, não nos dá, do passado, mais do que faces sem realidade; mas se um cheiro, um sabor encontrados em algumas circunstâncias totalmente diferentes, despertam em nós, à nossa revelia, o passado, passamos a sentir o quanto este passado era diferente daquilo que acreditávamos lembrar, e que nossa memória voluntária pintava, como os maus pintores, com cores sem realidade. Já, no primeiro volume, ver-se-á o personagem que conta, que diz: Eu (que não sou eu), encontrar subitamente anos, jardins, seres esquecidos, no gosto de um gole de chá onde ele encontrou um pedaço de madeleine ; sem dúvida ele se lembrava dela, mas sem seu calor, sem seu charme; eu pude fazê-lo dizer que como nesse pequeno jogo japonês onde se molham indistintos pedacinhos de papel que, logo mergulhados na bacia, se estiram, se contornam, se tornam flores, personagens, todas as flores de seu jardim, e as ninféias do Vivonne e a boa gente da aldeia, e suas pequenas moradias e a igreja, e toda Combray e seus arredores, tudo isso, que toma forma e solidez, saiu, cidades e jardins, de sua taça de chá.

Veja, não é senão às lembranças involuntárias que o artista deveria pedir a matéria prima de sua obra. Em primeiro lugar, precisamente porque elas são involuntárias , porque se formam delas mesmas, atraídas pela semelhança de um minuto idêntico, elas têm sozinha a marca de autenticidade. Depois elas nos devolvem as coisas numa dose exata de memória e de esquecimento e, enfim, uma vez que nos fazem experimentar a mesma sensação em uma circunstância completamente diferente, elas a liberam de toda a contingência, e nos dão dela a essência extra-temporal, aquela que é exatamente o conteúdo do belo estilo, esta verdade geral e necessária que somente a beleza do estilo traduz.

Gosto de tudo nessa entrevista. Mas nada supera o "Eu (que não sou eu)". Ahã

quinta-feira, 17 de maio de 2012

bagunça encaixotada

Estão pintando as paredes da minha casa e eu tive que encaixotar todas as minhas coisas. Tenho a impressão de que o livro da Marguerite está perdido em alguma pilha... mas no sábado eu acho. 

De qualquer modo, nem tudo está perdido. Encontrei livros esquecidos e separei "A confissão de Lúcio", do Mário de Sá-Carneiro pra ler. Li na ponte aérea, li no sofá, li na cama. Não sei se vou terminar de ler. Amor demais a Paris, à boemia, à "arte", à lourice. Coisa chata. O Lúcio com certeza usaria o Instagram. 

Bom, acho que termino. Tem um crime, ou não. Quero tirar da frente pra ler os livrinhos da coleção nova da Folha.

sábado, 28 de abril de 2012

L'Eternité - Arthur Rimbaud


L'Eternité

Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Ame sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.

Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.

Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise : enfin.

Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.

Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Quoi? L'Éternité - A memória e as lembranças

Não é que eu desisti do Proust. Apenar criei um pequeno intervalo para dar atenção à nova leitura das aulas de francês.




Devo confessar que não estava muito animada, pois há uns dois anos "tentei" ler Souvenirs Pieux e não rolou. Agora, talvez, com o francês um pouco melhor, a leitura está fluindo e é maravilhosa. 


Este livro, junto com Souvenir Pieux e  Archives du Nord, compõe a trilogia Le Labyrinthe du monde, sobre as memórias da família da escritora. Mas ela não nega que há dificuldades, que há lacunas que são preenchidas com fatos sobre os quais não se tem tanta certeza, que a memória é falha:


Ce décalage si marqué prouve à quel point noitre mémoire éloigne ou rapproche les faits, en d'autres cas les enrichit ou les appauvrit, et les transforme pour les faire vivre. La mémoire n'est pas une collection de documents déposés en bon ordre au fond d'on ne sait quel nous-même; elle vie et change; elle rapproche les bouts de bois mort pour en faire de nouveau de la flamme. Dans un livre fait de souveniers, il fallait que ce truisme fut énoncé quelque part. Il l'est ici.


O que é verdade, o que é inventado... não importa. Esse livro não é uma sequência chata de fatos, uma uma composição muito bonita de acontecimentos, bem costurada e bem comentada. Não vejo a hora de ler o resto. 



Ah, e sim, é verdade, o mundo está cada vez mais careta. 

domingo, 11 de março de 2012

Sobre ler devagar um livro interminável

Um dos motivos que sempre me desincentivou a ler "séries" foi a maldita da ansiedade. Explico: uma vez eu varei a noite lendo Como água para chocolate, de cabo a rabo, porque não conseguia encontrar uma brechinha para deixar o livro de lado. Era ansiedade demais pra saber como ia terminar.
Imaginem, então, lendo esses thrillers que estão na moda. Eu tinha a sensação de que não ia aguentar esperar o próximo lançamento ou ia passar mais noites em claro. Aí eu li a coleção do Harry Potter e sobrevivi. Não que isso tenha algo a ver com ler Em busca do tempo perdido... ou tem? Apesar de todas as distâncias que possa haver entre esses dois livros - na minha estante, nem é tão grande - comecei esse post com Harry Potter e cheguei em Proust. Estranhos caminhos.
Isso tudo, na verdade, é pra dizer que o Proust está me ensinado a ler sem ansiedade. Não que eu não pense nele durante o dia e não espere com alguma angústia o momento de chegar em casa, passar pelo ramerrame e abri o livro. É que é tão grande e tão denso que eu sei que vou demorar uns 3 anos pra terminar. Então, eu posso me deter em um parágrafo por 10 minutos ou ler 3 páginas nesse tempo, que tantufas.
Estou me detendo, por enquanto. E eu me deti outro dia numa passagem que não sai da minha cabeça, porque faz com que eu me sinta como o narrador se sente em relação a Bergotte (o escritor favorito do narrador criança, cuja principal qualidade é ver os detalhes do mundo imperceptíveis para os comuns). Segue:

Perto da igreja, cruzamos com Legrandin, que conduzia a mesma dama a seu carro. Passou por nós sem interromper a conversa com a companheira e fez-nos, com o rabo do olho, um sinal de certo modo independente das pálpebras e que, não acionando os músculos do rosto, pôde passar despercebido a sua interlocutora; mas, procurando compensar com a intensidade do sentimento o campo um pouco estreito em que circunscrevia sua expressão, fez cintilar, naquele cantinho azulado que nos reservava, toda a sua benevolência que, ultrapassando a jovialidade, raiava pela malícia; apurou as finezas da amabilidade até os piscamentos da conivência, às meias palavras, aos subentendidos, aos mistérios da cumplicidade; e finalmente exalçou as garantias de amizade até os protestos de ternura, até a declaração de amor, iluminando então só para nós, de um langor secreto e invisível à castelã, uma pupila enamorada em um rosto de gelo.

Isso tudo foi visto em um cantinho azulado.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Em busca do tempo perdido - as palavras que não significam nada

Pronto, mudei a imagem.

No youtube tem o filme, com o Jeremy Irons, baseado no Amor de Swann.

Quero ver, embora o bom seja ler. Nem é pela história. É pelas palavras, pelo jeito como são escritas, às vezes só porque são bonitas, às vezes pelo que significam. Por isso gosto de descrições: são boas na medida em que são bens feitas, mesmo que sejam sobre algo feio, algo inútil ou irrelevante.

Mas vejam, o Bloch, amigo do narrador, já disse algo assim, mas mais radicalmente:

-- Desconfia da tua dileção assaz baixa pelo senhor Musset. É um gagá dos mais maléficos e uma sinistra besta. Devo confessar que ele, e até o chamado Racine, fizeram cada um, em toda a vida, um verso muito bem ritmado e que tem em seu favor o que para mim é o mérito supremo: não significar absolutamente nada. Ei-los.

"La blanche Oloosone et la blanche Camyre
La fille de Minos et de Pasiphaé"


Isso não se lê em filmes.