quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Luz em Agosto (1)

Assim, eu sou do tipo que acredita em resenhas. Tem uns adjetivos que me cativam em especial, um deles é "delicioso". Fulano de tal ressurge com um álbum delicioso, misturando o clássico que o consagrou com contribuições de jovens artistas (tipo umas moças da nova MPB), resultando em um trabalho que se devora com todos os sentidos. Escreve isso sobre qualquer coisa que eu compro/ouço/leio na hora. Tá certo que eu me decepciono às vezes. Sem falar que todo ano tem uns 30 livros do ano.
Ok, voltando ao livro. Na orelha dele tá escrito assim: Há escritores que escrevem grandes livros. Há outros, mais raros, que instauram mundos. William Faulkner pertence a essa linhagem. Eu pensei: Ah, não pode ser - não ele especificamente, mas a idéia de instaurar mundos. Aí eu cheguei no seguinte trecho:

A memória acredita antes de o conhecimento lembrar. Acredita um tempo maior do que recorda, um tempo maior até do que o conhecimento imagina. Conhece lembra acredita em um corredor num grande longo frio despojado ressonante edifício de tijolos vermelhos escuros enegrecidos pela fuligem de mais chaminés do que a sua própria, plantado num terreno atulhado de cinza espalhada sem grama rodeado de construções industriais fumacentas e cercado por uma cerca de aço e arame de três metros como uma penitenciária ou um zoológico, onde em vagas erráticas aleatórias, com chilreios infantis pardalinos, órfãos em idêntica e uniforme sarja azul dentro e fora da recordação mas no conhecimento constantes como as paredes soturnas, as janelas soturnas onde na chuva a fuligem das chaminés adjacentes de um ano rescava como lágrimas negras.

E aí eu vi a diferença que a orelha do livro mencionou. É como da vez em que eu vi uma exposição do Michel Kikoine com o Cèzanne na cabeça. Ou quando eu comprei a Vogue Paris com a coleção de inverno e entendi porque a Stella McCartney ou a Miu Miu são fashionzinhas enquando a Chanel e a Dior são fantásticas (mas isso eu já sabia pq vi O diabo veste prada e quase decorei o discurso da malvadona explicando como a alta costura define o que é vendido a baciada nas lojas de departamento).

Shenzhen

Chegou hoje! Comprar pela internet dá aquele gostinho de esperar a encomenda chegar, é praticamente o contrário de toda a instantaneiade (existe?) da vida pós-moderna. Anyway, chegou meu livrinho, e eu estava mesmo querendo partir pra outro país asiático, porque li crônicas birmanesas duas vezes já...
Ler esses quadrinhos me lembra quando eu estava prestando vestibular e, cercada de tantos médicos-wannabe, cogitei seguir essa carreira também. Era pra ir pro "Médicos Sem Fronteiras". Aí descobri que existe "Advogados sem fronteiras" e voltei ao plano original. Sete anos depois, as fronteiras continuam de pé. Aí achei esotérica essa passagem aqui, que eu escaneei torto e resolvi deixar torto porque é assim que eu escaneio.