quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Livros e presentes

Já disse em outro momento que eu adoro ganhar livros de presente. Mas acho que nunca falei de dar livros de presente. Acho que é a maior responsabilidade, sei lá. Tem a história da intimidade e isso é foda. Toda vez que eu me apaixono, e nem precisa ser muito, eu quero dar um livro. Que eu me lembre, eu dei dois: Balada, da Hilda Hilst, e A caixa preta, do Amós Oz.

O primeiro eu amava de paixão, demorei muito tempo pra ter, sabia de trás pra frente, dei o exemplar que eu tinha e nunca mais comprei outro. E sempre tive certeza absoluta de que o livro seria quase incompreensível pra quem ganhou.
O segundo eu comprei assim, meio sem planejar, eu tava numa livraria em Ipanema, tinha acabado de ler (provavelmente tinha tido um síncope emocional depois da leitura) e achei naqueles varais de livros baratos. Algo me disse pra não fazer dedicatória (em Balada, eu fiz) e pqp eu estava certa: a porcaria do livro veio com umas folhas em branco.
Gente, livros são uma alegoria na minha vida.
Dos livros que eu ganhei, infelizmente só guardo um com resquícios de... sabe-se lá do que. É o La possibilité d'une île, do Michel Houllebecq:


O livro, inclusive, tem o clichezaço de uma flor seca no meio, mas a flor não tem nada a ver, eu peguei no jardim da minha prima em Portugal e quis guardar. Lembrei disso porque tava procurando um outro livro - mas não vou dizer qual - e encontrei esse. Eu só tinha grifado uma passagem, que segue abaixo:

Ils étaient encore au milieu de ce moment enchanteur où l'on découvre l'univers de l'autre, où l'on besoin de pouvoir s'émerveiller de ce qui l'émerveille, s'amuser de ce qui l'amuse, partager ce qui le distrait, le réjouit, l'indigne. Elle le regardait avec ce tendre ravissement de celle qui sait choisie par un homme, qui en éprouve de la joie, qui ne s'est pas encore tout à fait habituée à l'idée d'avoir un compagnon à ses côtés, un homme à son usage exclusif, et qui se dit que la vie va être bien douce. (p.251)



sábado, 14 de agosto de 2010

House of sand and fog

Ok, nem é um clássico nem nada, nunca tinha ouvido falar desse cara aí que escreveu o livro - eu tou lendo Proust e Racine também :-\ - mas o que me levou a querer ler esse livro foi uma combinação de certos fatores. O primeiro foi o cartaz do filme, que tem o Ben Kinsley e lembra muito a Morte e a Donzela, olhem só:




Eu sempre fui fascinada por esse último filme: tinha em VHS na minha casa, tinha vindo na coleção Caras, mas eu demorei muitos anos pra ver e, apesar de ter gostado bastante, confesso que na época fiquei decepcionada, porque o título tinha me provocado várias fantasias que não se conretizaram no filme (claro, né). Além disso, os dois têm, em determinado momento, o espaço de ação delimitado a uma casa, o que cria uma espécie de prisão onde as pessoas tem que resolver seus problemas. Não dá pra ir embora. Uma vez fizeram isso comigo num trem, puta maldade.

Outra coisa é que um dos personagens é um iraniano que mora nos EUA. Gente, quem não gosta de um choque de valores? É sempre legal. Eu já até grifei um trechinho, mas o livro tálooonge no meu quarto, então fica pra próxima. Além disso, tenho um fascínio pessoal e inexplicável com gente que tem a pele cor de café. Só a idéia da cor já é bonita, dá até pra sentir o cheiro de café torrado.

Ah, aproveitando pra deixar avisado (mas acho que devo passar por aqui antes), irei em breve passar minhas merecidas férias em Cartagena, de onde voltarei levemente como meus apreciados iranianos. E como a Colômbia é o país de um nobel da literatura, trarei livrinhos para posteriores pitacos.

domingo, 1 de agosto de 2010

Moça com brinco de pérola

Primeiro eu vi o filme:



depois li o livro:



E eu digo que, ao contrário da maioria dos casos, há que se fazer as duas coisas, não dá só pra ler. O filme é deslumbrante e, a não ser que você tenha uma veia de artista plástico bem pronunciada, não vai conseguir, só pela leitura do livro, imaginar as cores do filme. Na verdade, esse filme é uma sucessão de quadros. Decerto, ele acaba suprimindo uma série de passagens e o fato de a Griet não ser a narradora, como ocorre no romance, faz com que ela pareça menos esperta e consciente do que é no livro.

Agora, o livro. Ok, não é um megaromance, não é um clássico, é um bestseller da NYT. Mas sustenta a tensão entre a Griet e o Vermeer até o final (ligeiramente diferente do filme e mais comprometedor para o pintor) e - tudo bem, não faço idéia de como eram os hábitos na Holanda do século XVII, mas o contraste entre a contenção protestante e os exageros católicos me pareceu verossímil e muito pertinente com o tema. Em suma, é lindo, tou até relendo.

Aqui tem o site do Tracy Chevalier, com info sobre o livro e outras cositas. Destaque para a inspiração do livro:

The idea for this novel came easily. I was lying in bed one morning, worrying about what I was going to write next. (Writers are always worrying about that.) A poster of the Vermeer painting Girl With a Pearl Earring hung in my bedroom, as it had done since I was 19 and first discovered the painting. I lay there idly contemplating the girl's face, and thought suddenly, "I wonder what Vermeer did to her to make her look like that. Now there’s a story worth writing." Within three days I had the whole story worked out. It was effortless; I could see all the drama and conflict in the look on her face. Vermeer had done my work for me.