quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Luz em Agosto (1)

Assim, eu sou do tipo que acredita em resenhas. Tem uns adjetivos que me cativam em especial, um deles é "delicioso". Fulano de tal ressurge com um álbum delicioso, misturando o clássico que o consagrou com contribuições de jovens artistas (tipo umas moças da nova MPB), resultando em um trabalho que se devora com todos os sentidos. Escreve isso sobre qualquer coisa que eu compro/ouço/leio na hora. Tá certo que eu me decepciono às vezes. Sem falar que todo ano tem uns 30 livros do ano.
Ok, voltando ao livro. Na orelha dele tá escrito assim: Há escritores que escrevem grandes livros. Há outros, mais raros, que instauram mundos. William Faulkner pertence a essa linhagem. Eu pensei: Ah, não pode ser - não ele especificamente, mas a idéia de instaurar mundos. Aí eu cheguei no seguinte trecho:

A memória acredita antes de o conhecimento lembrar. Acredita um tempo maior do que recorda, um tempo maior até do que o conhecimento imagina. Conhece lembra acredita em um corredor num grande longo frio despojado ressonante edifício de tijolos vermelhos escuros enegrecidos pela fuligem de mais chaminés do que a sua própria, plantado num terreno atulhado de cinza espalhada sem grama rodeado de construções industriais fumacentas e cercado por uma cerca de aço e arame de três metros como uma penitenciária ou um zoológico, onde em vagas erráticas aleatórias, com chilreios infantis pardalinos, órfãos em idêntica e uniforme sarja azul dentro e fora da recordação mas no conhecimento constantes como as paredes soturnas, as janelas soturnas onde na chuva a fuligem das chaminés adjacentes de um ano rescava como lágrimas negras.

E aí eu vi a diferença que a orelha do livro mencionou. É como da vez em que eu vi uma exposição do Michel Kikoine com o Cèzanne na cabeça. Ou quando eu comprei a Vogue Paris com a coleção de inverno e entendi porque a Stella McCartney ou a Miu Miu são fashionzinhas enquando a Chanel e a Dior são fantásticas (mas isso eu já sabia pq vi O diabo veste prada e quase decorei o discurso da malvadona explicando como a alta costura define o que é vendido a baciada nas lojas de departamento).

Shenzhen

Chegou hoje! Comprar pela internet dá aquele gostinho de esperar a encomenda chegar, é praticamente o contrário de toda a instantaneiade (existe?) da vida pós-moderna. Anyway, chegou meu livrinho, e eu estava mesmo querendo partir pra outro país asiático, porque li crônicas birmanesas duas vezes já...
Ler esses quadrinhos me lembra quando eu estava prestando vestibular e, cercada de tantos médicos-wannabe, cogitei seguir essa carreira também. Era pra ir pro "Médicos Sem Fronteiras". Aí descobri que existe "Advogados sem fronteiras" e voltei ao plano original. Sete anos depois, as fronteiras continuam de pé. Aí achei esotérica essa passagem aqui, que eu escaneei torto e resolvi deixar torto porque é assim que eu escaneio.

domingo, 22 de novembro de 2009

Luz em Agosto

Nem saberia dizer onde está o livro da Amélie. Já deixei há muito tempo a obsessão de terminar todos os livros. Se livro é uma companhia e o livro é ruim, melhor só do que mal acompanhada. E, diferentemente da vida, a companhia livresca abunda em opções e a fila nunca para de andar.
Anyway, sem mais explicações eu escolhi o Faulkner. No fundo, contrariando o que se poderia esperar de mim, eu acho os EUA um pais fascinante. Como todos, claro, tem seus prós e contras. Mas eu tenho curtido muito mais os prós americanos do que os prós franceses, por exemplo. Não sei muito bem o porquê, mas sei que tem relação com o estilo de escrita - ou as traduções, eu ainda não resolvi essa questão. É direta e geralmente simples. Meio seca. Sem frufrus. Ou, frous frous.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um copo de cólera

Claro que esse livro merece um post só pra ele, não ia usar o rodapé do Benedetti. Eu li uns três capítulos ontem, mas devo parar de ler. Já li uma vez, numa sentada só. Depois de ler "A caixa preta". Na época, eu estava tresloucada e, lendo ontem, parecia tudo novidade. Eu nem lembrava da passagem de sexo logo no começo. Só lembro da briga. É que o livro - o exemplar que tenho - veio direto da casa do autor. Ok, não era pra mim e tal, mas chegou em mim de algum jeito. Aí deu até mais prazer de ler. Mas não quero continuar porque sei que pra apreciá-lo tenho que ler todas aquelas coisas dolorosas, botar pra dentro e depois eu fico numa viagem com o livro que dura dias, meses e aposto que até pode durar anos.
E esse autor, especificamente, me ronda de um jeito incômodo. Vou contar: uma vez eu li uma reportagem em que o autor (da reportagem) relacionava as pouquísssimas obras do Raduan Nassar com quadros do Almeida Junior, lembro desses três aqui:
O importuno - 1898

Leitura - 1892

Saudade - 1899 (esse é o meu favorito)

Ocorre que eu não me lembro exatamente da relação feita, mas lembro que mexeu tanto comigo que nunca consigo olhar pra esses quadros e não pensar no Raduan. Ok, ok, vou procurar a reportagem pra me justificar.
Mas, falando sério, esse último é de partir o coração. No dia em que eu tiver desses notebooks finos como papel e receber um e-mail de quem me faz falta, vou fazer uma versão pós-moderna desse quadro e me fotografar com o celular.

Quem de nós

Na onda Benedetti resolvi terminar de ler "Quién de nosotros", que estava na minha escrivaninha há tempos.



Descobri que foi o primeiro romance dele, o que me fez dar um desconto. A verdade é que a melhor parte do livro eu já tinha lido mesmo, o resto foi meio morno. Nâo digo ruim, mas assim... não vai ficar na memória. Só a melhor parte, essa eu vou contar porque achei genial (deve ter algum exagero nisso): o cara tá escrevendo uma carta pra mulher e se recorda da vez em que planejou de matar. Ficou pensando porque tinha escolhido veneno ao invés de uma arma, uma segunda ao invés de um sábado. Aí vem a luz: ele escolheu se matar na segunda pra poder ir ao estádio no domingo! Quando descobriu isso, decidiu que não ia se matar, afinal, se algo na vida ainda lhe dava prazer... Bom, talvez não seja tão genial. Mas é a minha história preferida de suicídio. O que é um grande avanço em termos de otimismo, já que a anterior era a da Anna Karenina, que, aliás, pra mim, é muito mais legal do que a da Madame Bovary.

sábado, 10 de outubro de 2009

Aeeeee

Aeee, tou de volta! Tou meio elétrica e resolvi mostrar isso no post. A viagem pra Buenos Aires não foi muito literária. Trouxe os seguintes:


e


Notem que, quanto aos livros do Benedetti, está faltando o Inventario Uno. Isso foi um problema, já que o Uno estava faltando ns livrarias... E eu adoro "obras completas", antologias e todo tipo de coleção desse gênero. Comprar esses livros faltando justamente o primeiro não é do meu feitio. Comprei, contudo, porque uma hora a gente tem que aprender que... ah, sei lá... comecei a escrever isso há umas 5 horas, fui ao cinema, vi uma porcaria de filme e não lembro mais o que a gente tem que aprender. Era algo sobre a expectativa inatingível da completude, mas o que eu tenho que aprender mesmo é a procurar o Inventario Uno no buscapé. É mais simples.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Adiós Nonino

Amanhã vou para Buenos Aires, de onde espero trazer muitos livrinhos e dar um gás nesse blog. Aliás, de todas as coisas que precisam de um gás na minha vida, esse blog é a última delas... não obstante (ou justamente por isso), é minha principal preocupação.
Estou indo com a recorrente promessa de não voltar, já que viagens de avião me apavoram. O que é curioso, porque nunca tem a promessa de não ir. E me voy porque a única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Procrastinar

Procrastinar é uma delícia. Descobri um jeito muito bom, é assim: no caso, eu tenho que passar a limpo um fichamento, então eu abro o arquivo do word (ok, no meu caso, é OpenOffice), abro o caderno, está tudo pronto. E depois fico vendo as notícias sobre a gravidez da Gisele Bündchen no terra... delicinha.
Então, nesse post aqui, eu falei do encontro com Shakespeare no banheiro e tal. Até queria postar a frase pichada no banheiro, mas alguém pintou por cima. Eis que hoje me deu uma vontade louca de fazer xixi e toca ir naquele banheiro. E se eu soubesse que meu desejo ia se tornar realidade, tinha pedido outra coisa e não que a pichação estivesse de volta. E lá estava. E aqui está:

Tatuagem

Estou namorando uma idéia para uma outra tatuagem. Namorei a antiga muito tempo, muito, muito tempo... Anos, eu acho... Então vou ficar sossegada, por enquanto. Ah sim, estou dizendo essas coisas por causa desse texto do Nani. Você não tem tatuagem, a tatuagem é que tem você. E é claro que me vem na cabeça a música do Chico, aí fode tudo.

As ruínas circulares

Em julho fui em um encontro de leitura na Galeria Olido. Até anuncei isso por aqui. Andei dando as minhas sugestões por lá, aquela mania de não conseguir ficar quieta... Eis que acataram a minha idéia e esse mês o texto a ser lido é do Borges, As Ruínas Circulares.
Esse conto, junto com um do Poe e um do Primo Levi, me faz pensar na minha relação com a arte. São meus contos favoritos por um único motivo: me deram frio na espinha, me deram uma sensação esquisita (gostosa, mas esquisita). Se eles tem implicações existencialistas, filosóficas, políticas ou o escambau, não me importa, pelo menos num nível sensitivo. É parecido com a sensação de entrar na ala do Van Gogh no Museu D'Orsay: não é necessário olhar quadro a quadro, admirar a técnica e perceber a temática do medo da solidão em cada tela. Apenas aquele monte de cores serve pra provocar deslumbramento.
Sentir mais e pensar menos, essa é a minha lição de casa.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Anticristo

Bom, vou tentar algo novo, já que o Henrique deu a sugestão, e falar de filmes também. Mas como ainda não são nem 10 horas de uma segunda feira, vou ter é que requentar uma opinião já dada sobre esse filme, em um e-mail. A pergunta era: e aí, gostou? Eis a resposta que eu dei:

bom, é complicado. eu fui lá pensando: ficar chocado com filme é mto retrô, imagina que eu vou ficar chocada com um filminho, eu já vi mta coisa nessa vida. Aí eu tive várias sensações.

1. Físicas: sonolência, no começo. Arrepios aflitivos e depois náusea, seguida de uma tontura ao fim do filme;
2. Emocionais: tédio, incompreensão, incompreensão, aflição, incompreensão, incredulidade e choque;

aí li umas críticas, li o que o lars von trier falou sobre não querer justificar o filme e que cada um deveria dar a sua interpretação. Aí eu dei a minha. Pra mim, não é um filme misógino, é o contrário. É um filme que fala justamente de como a misoginia está tão interiorizada por homens e mulheres que acaba se confundindo com uma fatalidade. Então, esse filme me parece um pesadelo de uma mulher atordoada com a idéia de que merece morrer, embora, racionalmente, ela e o marido não achem isso. Aí tem o fim do filme, mas como eu nao sei se vc viu, nao vou falar nada. Assim, no fundo, talvez isso nao tenha nada a ver. Mas quando a gente vê algo que não entende, precisa dar um sentido, mesmo que temporário. Sei lá. Ou eu fazia isso ou considerava o filme um lixo.

Na verdade, tudo isso já passou. Ficou cerca de umas duas semanas me incomodando, mas agora já passou. Ontem vi Che 2.

sábado, 19 de setembro de 2009

Coisas nada a ver que passam na minha cabeça logo de manhã

Ontem - sexta feira, 21h - tocou no rádio aquela música do Los Hermanos que diz que a fulana acha que sofrer é amar demais. Do jeito mais inusitado é que a gente se descobre apaixonado: olhei para o banco do passageiro e lá vi uma pilha de livros sobre os mais variados aspectos da relação entre processo e poder, processo e trabalho, processo e o escambau, e me toquei que devo estar amando a minha tese. E estou amando demais!

À noite sonhei que peguei o elevador do prédio e ele começou a andar pela cidade (o que não deixa de ser interessante, pq, acordada, não são raras as vezes que eu chamo elevador de ônibus). Depois ele voltou pro prédio, deixou o moço que estava comigo no primeiro andar e me deixou no décimo. Só que o moço tinha esquecido uns cartõezinhos que ele usava pra estudar: peguei os cartões do chão, achando que teriam coisas de estudo, mas só tinha desenhos e frases fofinhas.

domingo, 30 de agosto de 2009

Nem de Eva, nem de Adão

Ah, a delícia de ler um livro sem grandes pretensões (tanto o livro, quanto a leitura). Eu já tinha lido uma boa parte antes de parar e retomar a leitura desde o começo. Sabia, mais ou menos, qual era a passagem em que o japonês agarra a belga - é claro que essa é a minha parte favorita, eu nunca neguei esse tipo de coisa. Mas eu posso apontar um motivo particular desse romance: no capítulo em questão, a belga mergulha a mãozinha em uma espécie de gel inflamável, se melecando toda. Não consegue, porém, tirar o gel seco da mão, se corta com a faca. O japonês, então, resolve tirar o gel com os dentes. Segue:

Rinri ne se laissa pas démonter et racla jusqu'au bout. L'opération dura un temps infini pendant lequel je me pénétrai de labizzarrerie de la situation. Ensuite, en artisan perfectionniste, il nettoya mes doigts dans l'évier avec du détergent et une éponge abrasive.

Pra entender o que eu quero dizer, tentem visualizar.


sábado, 22 de agosto de 2009

Cartola, Chico e Amélie

Meu, se o Cartola tivesse escrito um livro eu lia. Eu estava agora, olhando pra estante, tentando escolher um livro pra ler (apesar das tristes pilhas de livros técnicos que me esperam em todos os cantos do meu quarto), desejando qualquer coisa que me desse a sensação que dá ouvir Cartola cantando Cartola. Na vitrola está tocando Mulheres de Atenas, então o Chico me pareceu uma alternativa. Aliás, eu nunca me canso de ouvir essa música. Eu até tenho uma teoria pra isso, mas fica pra outro post. Ai, tou confusa. Bom, não vou ler nada do Chico, porque já meio que li Budapeste e vi o filme e não tenho o outro e me recuso a comprar livros. Vou chegar mais perto da estante pra decidir.
(...)
Bem, não achei nada cartolante. Mas achei um livro da Amélie Nothomb que eu comprei em Portugal e que estava reservando para um momento propício. Nem de Eva nem de Adão (o livro está em francês, então vou ter que fazer umas traduções livres e vagabundas). Tem a ver com a música do Chico, mas como um oposto: fala do relacionamento da autora com um jovem em que "ninguém quer massacrar ninguém". Daí o título, nem de Eva nem de Adão...


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tirinha

Porque eu fiquei me remoendo de ter dito algo sério, agora preciso fazer um está-tudo-bem engraçadinho. Segue a última tirinha que me fez gargalhar lendo a Folha.


Pena que perde a graça depois da nona vez que você lê. Ah, mentira, não perde a graça nunca.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Compartilhar

Nesses últimos 10 dias não pensei nesse blog. Desencanei do Beckett e devorei o Murakami. Devorei o fim do Murakami no avião, indo pra Brasília. Chegando lá tive vontade de comentar com as pessoas o livro, em especial uma passagem que eu havia grifado (grifei apenas duas). Mas eu não tive coragem, quando passei os olhos pela frase me pareceu que ter grifado aquilo dizia algo tão escuro sobre mim, até me deu vergonha. Depois me deu uma tristeza, e eu fechei o livro. Pensando melhor agora, talvez tenha sido um avanço. Talvez eu tenha mesmo fechado o livro pra me preservar. O que não significa que aquilo não esteja mais aqui dentro.

domingo, 9 de agosto de 2009

Museu da Língua Portuguesa

Ontem estive - finalmente - no Museu da Língua Portuguesa e ainda aproveitei pra comer milho no pratinho no parque da Luz. Nada mais fascinante do que descobrir que bunda e xoxota são palavras de origem africana e que cacique -pasmem - é de origem espanhola (juro que eu ainda não tou convencida disso). Enfim, é um lugar para ir muitas vezes, sozinho ou acompanhado, detendo-se mais ou menos na frente dos painéis, de acordo com a paciência do dia. O melhor emprego o mundo é o da pessoa que organiza a "performance" depois do filminho no terceiro andar e o destaque eu dou é pro arranjo musical que o Rappin' Hood fez pra um poema do Gregório Mattos. Mas eu não vou dar mais detalhes.

Primeiro Amor (2)

Eu sempre tive um jeito não muito prático de marcar minhas passagens preferidas: pequenas dobras no canto da página. Se a passagem está na parte final, a dobra é a no canto inferior e vice-versa. Eis que me deparo, depois de uns 3 dias sem ler o livro, com duas dobrinhas consecutivas (embaixo e em cima) e não sei do que se trata. O que acontece é o seguinte: sou extremamente sugestionável e, sabendo disso, seleciono leituras e livros de acordo com meu estado de espírito. Esse livro é muito duro, fala do amor como algo seco, olha só:

O que se chama amor é o exílio, com um cartão postal da terra natal de vez em quando, foi esse meu sentimento naquela noite.

Ou

Sim, eu a amava, é o nome que eu dava, que ainda dou, ai de mim, ao que eu fazia, naquela época. (...) Portanto eu era capaz, apesar de tudo, de dar um nome ao que eu fazia, quando me via de repente escrevendo a palavra Lulu numa bosta velha de novilha (...).

Alguns livros em primeira pessoa são sufocantes. Esse, com um personagem já reduzido à miséria material, só tem espaço para a análise da miséria espiritual do homem, se é que se pode usar esse termo de um modo secular. E esses dias, sabe-se lá a razão, se apoderou de mim uma espécie de serenidade e contentamento. Não sei se é um tipo de estoicismo que depois vai ter consequências perturbadoras no meu espírito habitualmente dramático. Com isso, a leitura do Beckett se torna mais difícil e até incômoda.
No fundo, essa dificuldade não é nada mais do que reflexo da minha tradicional incapacidade de lidar com certos meios-termos. Por isso, vou terminar esse conto (juro, eu tava quase desistindo), postar aqui e fazer o que me propus.

sábado, 1 de agosto de 2009

On the side

Um visitante mais atento terá visto que coloquei uma nova seção aí do lado, chamada On the side. Serve para informá-los do que eu leio (afe, que egocentrismo) além do habitual pitaco. E no ritmo que as duas leituras andam, esse blog deveria ser chamado de pitaco na leitura on the side.
Anyway. Uma vez eu li um texto do Umberto Eco (acho) sobre os livros que são mais comentados do que lidos. Sem dúvida Shakespeare estava no meio. Então, um dia, na biblioteca, ou, mais especificamente, na segunda cabine do banheiro da biblioteca departamental da FDUSP, li algo pichado na porta. Graças a Deus temos o google e eu pude descobrir, sem esforços, que se tratava de um trecho de Macbeth. E a esse trecho devo minha atual jornada (ainda que superficial) aos textos do Shakespeare.

Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

William Shakespeare's Macbeth, from Act 5, Scene 5

E, sem surpresa, essa passagem me remete a uma autora que me é mais familiar:

It
seems then that men and women are equally at fault. It seems that aprofound, impartial, and absolutely just opinion of our fellow-creatures is utterly unknown. Either we are men, or we are women. Either we are cold, or we are sentimental. Either we are young, or growing old. In any case life is but a procession of shadows, and God knows why it is that we embrace them so eagerly, and see them depart with such anguish being shadows.
Virginia Wolf, Jacob's Room.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Antiquada

Moro em uma casa com cerca de 4.000 livros. Ocupam um espaço terrível e acumulam uma quantidade de pó mais terrível ainda. Mas eu não abro mão do papel.
Deu até uma dorzinha no coração quando eu li essa reportagem:

Amazon faz papel de Grande Irmão e apaga arquivos do Kindle

Eu não acho que gostar de ler no papel me faça uma leitora mais legítima. Só que, pelo menos, se eu deixo o livro na cabeceira, sei que ele não vai ter sumido no dia seguinte, quando eu acordar.

Primeiro Amor (1)

Bom, antes de começar, acho que é importante dizer que eu não sou fã em especial do Beckett. Na verdade, acho Esperando Godot um porre - ok, eu só vi uma montagem e não era grande coisa. Primeiro amor, porém, é um conto curto e foi - tenho até vergonha de confessar - um livro comprado pela estética da capa, dos desenhos do lado de dentro e por causa do título.
Quando li a primeira frase - Associo, com ou sem razão, o meu casamento à morte do meu pai, em outros tempos - lembrei, com ou sem razão, de Carta ao pai, do Kafka. Agora, é impossível deixar de confundir os dois livros e imaginar o narrador/personagem como um moleque franzino e intelectual. No fim, nem deve ser diferente disso: conforme se avança na leitura, percebe-se que se se trata de um verdadeiro solitário, que prefere passear no cemitério do que em parques. São impressionantes os preconceitos: não consigo, juro, por mais que tente, visualizar alguém como, digamos, o professor da minha academia, vagando sozinho por um cemitério e elegendo o seguinte epitáfio:

Aqui jaz quem daqui tanto escapou
Que só agora não escape mais

E assim não se vê quanta gente quer escapar.

sábado, 18 de julho de 2009

Primeiro amor

Que vontade louca de drama.

Pradva Pravda

Totalmente fora do propósito desse site. Bom, nem tanto, se considerarmos que meus (muitos) sonhos são o principal material dos (poucos) contos que escrevo. Em resumo: sonhei que tinha feito uma viagem a Pradva que, em sonho, era a capital da Croácia. Não é essa a capital da Croácia (ia ser maravilhoso se, além de bizarros, meus sonhos também fossem geograficamente precisos) e nem existe lugar com esse nome. Mas existiu um jornal na URSS chamado Pravda, palavra que significa verdade.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Galeria Olido

Meu, eu vou só pra "escrever em folhas de papel" as minhas impressões.

Coord.: Rita Marques.
Para a atividade, são distribuídas, durante todo o mês, de segunda-feira a sábado, das 10h às 20h, cópias do conto A terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa. Na última segunda-feira, os participantes se reúnem para comentar a narrativa. Os freqüentadores podem, também, escrever em folhas de papel suas impressões sobre o texto, para serem afixadas no Painel do Leitor.
Dia 27/7, 18h30

Adeus Adeus, Columbus

Não sei se foram os acontecimentos da última semana, mas o fato é que eu me enchi do Adeus, Columbus, dessa coisa judeus-em-nova-iorque-nos-anos-50. Tanto que o livro passou dias perdido e eu nem notei. E também não vou escolher nenhum livro de poesia pra pitacar. Não me importo que disse que ia: eu já mantenho promessas demais.
Vou escolher outra coisa pra ler.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tigre

Sou prosa, definitivamente. Não que nem na música da Rita Lee. Só quero dizer que tenho uma clara preferência pela prosa (contos, mais especificamente) do que pela poesia. Mas andei pensando em escolher um livro de poesia pro próximo pitaco (ok, eu tenho que terminar o Adeus, Columbus). Só pra ir esquentando minha idéia, segue um poema do Neruda, um trecho da Hilda Hilst e um pequeno do Pessoa.

El Tigre - Pablo Neruda

Soy el tigre.
Te acecho entre las hojas
anchas como lingotes
de mineral mojado.

El río blanco crece
bajo la niebla. Llegas.

Desnuda te sumerges.
Espero.

Entonces en un salto
de fuego, sangre, dientes,
de un zarpazo derribo
tu pecho, tus caderas.

Bebo tu sangre, rompo
tus miembros uno a uno.

Y me quedo velando
por años en la selva
tus huesos, tu ceniza,
inmóvil, lejos
del odio y de la cólera,
desarmado en tu muerte,
cruzado por las lianas,
inmóvil, lejos
del odio y de la cólera,
desarmado en tu muerte,
cruzado por las lianas,
inmóvil en la lluvia,
centinela implacable
de mi amor asesino.


Para ti, V - Hilda Hilst

Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.


O que o seu jeito revela - Fernando Pessoa

O que o seu jeito revela
Sabe à vista como um gomo,
E a vida tem fome dela
Nos dentes do seu assomo.

E nele mesmo, vibrante
A esse corpo de amor,
Espreita, próximo e distante,
O seu tigre interior.

Toda vez que eu leio esse poema do Neruda já fico achando que sou poesia. Ele me dá calafrios.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Open Window

Vamos inverter a ordem: pra não estragar, primeiro tem que ler The open window. Depois pode terminar de ler o post.

Justiça seja feita ao meu tio: pode até ter sido ele quem me contou a história do quadro, mas inventar historinhas desse gênero sempre foi regra na minha casa: somos judeus, somos parentes do Al Capone, vemos apenas em preto e branco, somos desdencentes do Cervantes, o fantasma da D. Antônia vive em casa, é possível falar com os mortos usando um rádio de vávula e assim por diante. E a prova cabal disso é que, quando eu era criança, o meu pai me fazia ler esse conto e gostava de dizer que eu era igualzinha à menina.

Adeus, Columbus (4)

Ah, eu não disse que Adeus, Columbus é o nome de uma música que "toca" no conto. O conto é de 1959, o filme é de 1969. A música não existia, foi composta para o filme. Aqui em http://www.youtube.com/watch?v=WGerL1-MpSU&feature=related.
Eu imaginava uma música melancólica, numa voz grossa de homem, cantando assim: gooooooooodbye, columbus (columbus meio arrastado, quase pela metade), com aquele sonzinho de vinil - e tinha que ser a ultima faixa, pra terminar com o barulho da vitrola desligando.

Em tempo: hoje fui tirar a limpo a história do quadro da minha avó e descobri que fui alvo de uma cruel invenção. Pelo que consta dos arquivos da memória do meu pai, "esse quadro não tem nada a ver com a bíblia" e "deve ter sido o seu tio Zé Luiz quem te contou essa história".

domingo, 5 de julho de 2009

Adeus, Columbus (3)

É impressionante como sou sugestionável, seja para criar expectativas em relação a determinado livro, seja para confirmar o gosto por um certo filme. Explico: vi, na semana passada, pela 3ª vez, Despertar de uma paixão (baseado em O Véu Pintado, do W. Somerset Maugham), e toda vez que eu vejo esse filme choro loucamente - mas sempre tive consciência que devia ser coisa de mulherzinha. Quando fui devolver o filme na locadora, a atendente começou a elogiar o filme e eu me senti mais legitimada pra gostar dele (não li o livro, mas duvido que seja tão impressionante, juro, a cena em que toca La claire fontaine é de partir o coração).
Com Adeus, Columbus foi meio parecido: o vendedor disse que o livro tinha sido uma experiência determinante na adolescência dele. Ok, eu não sou ele. Mas eu li essa primeira história com a expectativa que vem com todo livro recomendado. Só que me pareceu mais uma provocação do que uma lição. Esse conto me fez passar vontade. E, pra piorar, tem no youtube a cena da piscina: http://www.youtube.com/watch?v=SH2Xs7N-hPM. É por isso que eu odeio o inverno.


quinta-feira, 2 de julho de 2009

Adeus, Columbus (2)

Ainda sobre A conversão dos judeus. Eu tinha selecionado um trecho, mas achei que o outro post já estava grande demais. É uma parte logo depois de o menino ter subido no telhado da escola, num ataque de fúria/revolta/sei lá o que:

Uma pergunta explodiu em seu cérebro. "Mas isso sou eu, mesmo?" Em se tratando de um garoto de trezes anos que havia acabado de chamar seu líder religioso de filho-da-puta, e duas vezes, a pergunta procedia. Cada vez mais alto, a pergunta se repetia para ele - "Sou eu? Sou eu?" - até que Ozzie deu por si não mais ajoelhado, e sim correndo como um louco em direção à beira do telhado, os olhos chorando, a garganta gritando e os braços agitando-se para todos os lados, como se não lhe pertencessem.
"Sou eu? Sou eu EU EU EU EU? Tem que ser eu - mas será?"
É a pergunta que um ladrão certamente faz a si próprio na noite em que abre com um pé de cabra sua primeira janela, e diz-se que é também a pergunta que o noivo dirige a si próprio diante do altar.
(...)
Porém, a cena lá embaixo resolvia todas as dúvidas, pois há um momento em qualquer ação em que a questão de você ser você ou ser outra pessoa se torna acadêmica. O ladrão enfia o dinheiro nos bolsos e sai pela janela afora. O noivo assina o livro de recepção do hotel, pegando um quarto para dois. E o menino no telhado se depara com toda uma rua cheia de gente olhando para o alto, para ele, pescoços esticados para trás, rostos levantados, como se ele fosse a cúpula do planetário Hayden. De repente você tem certeza de que você é você.

Eu gosto de questão de você ser você ou ser outra pessoa se torna acadêmica.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Adeus, Columbus (1)

Bom, como é um livro de contos, eu não tive que seguir a ordem dos numerinhos das páginas e fui direto para A conversão dos judeus.
Trata-se de uma história de um menino que, na aula, ouve o professor dizer que é impossível que Jesus tenha nascido de uma mulher virgem e faz a seguinte pergunta: Se deus foi capaz de criar o mundo, se ele é capaz de fazer qualquer coisa, então porque não pode fazer com que uma mulher tenha um filho sem ter feito sexo? A pergunta é demais e me lembra um episódio parecido da minha infância: na casa da minha avó paterna havia um quadro (que eu considerava assustador) de uma mulher sendo levada pela correnteza e se segurando em uma cruz gigante de madeira, que brotava do fundo do rio. Quando perguntei a história da quadro, me disseram que ela estava se afogando e pediu a deus que a salvasse: eis que deus, com todo seu poder, fez surgir a tal da cruz e ela não se afogou. Ora, eu pensava, se deus podia salvá-la, era melhor que a tivesse tirado de dentro do rio, ou feito a correnteza parar...mesmo porque, se vocês pudessem ver o quadro entenderiam, ela continua fazendo cara de desespero e com medo de se afogar. Uma hora ela vai ficar cansada, vai soltar da cruz e vai morrer.
Enfim, quando minha avó faleceu, fiz questão de trazer esse quadro pra casa. Ele está abandonado dentro de um box em desuso.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amos Oz

Ok, ok, eu sei que insisto muito nele. Pronto, eu estava mesmo esperando esse momento em que ia perceber isso e me perguntar porque fiquei tão alucinada com um livro epistolar sobre um casal sado-masoquista que termina os seus dias numa espécie de comunidade hippie. Eu nunca gostei muito de livros em forma de cartas. Que sofrimento foi ler "Os sofrimentos do jovem Werther"!..além da decepção de não ter tido vontade de me matar no fim da leitura (só durante).
O filme é bom, me fez até querer ir morar num kibutz (mas, quando o filme acabou, a vontade passou). Tem no youtube, em partes.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Adeus, Columbus

Escolhi o novo pitaco. Eu adoro os americanos, podem dizer o que for, mas nenhum livro me fez chorar tanto quanto O sol é para todos, da Harper Lee (que tem filme com o mesmo nome, com o Gregory Peck).


Ok, talvez tenha sido exagero, afinal o livro trata de um assunto que me é caro, vai ver foi por isso que fiquei tão emotiva.
De qualquer maneira, eu ainda adoro os americanos. E por isso escolhi o Philip Roth, que é demais. Não aconselho fazer o mesmo que eu fiz e começar a lê-lo pelo Complexo de Portnoy...a não ser que tenham estômago forte e um senso de moral flexibilizado. Pode ser um pouco chocante. Eu gosto porque é cru, é direto.
Assim, eu escolhi Adeus, Columbus porque é de contos (facilita os pitacos), está lido pela metade (então eu garanto) e tem um conto que é engraçadíssimo, que é A conversão dos judeus. Juro, esse conto está no meu top 5 de contos. Só não publico o ranking por uma questão de coerência: ontem mesmo eu estava na Cultura e me irritei com a quantidade de Os cem melhores contos de toda a qualidade.
Ah, e eu também lembro que quando comprei esse livro o vendedor quase teve um orgasmo contando como tinha sido ma-ra-vi-lho-sa a experiência dele com esse livro na adolescência. Ele disse que descobriu alguma coisa, mas eu não lembro o que era...

domingo, 21 de junho de 2009

Persepolis e mais

Ok, eu vi o filme e não li o livro - ainda. Mas acho que isso não me impede de constatar que quadrinhos são muito didáticos. Se eles abordam fatos históricos - no caso, a revolução islâmica no Irã - a concisão não é um defeito, é praticamente uma exigência. É mais prazeiroso do que ir atrás da Wikipedia.
Não li muitos quadrinhos, é verdade. Às vezes até agi contra-quadrinhos: a única obra do Neil Gaiman que eu li foi um livro de contos - Coisas frágeis - lindo.


Mas eu sei que eu comecei com o pé direito nesse mundo. O primeiro livro em quadrinhos que eu li (tirando o almanacão da turma da Mônica) foi Maus do Art Spiegelman. E a passagem da viagem de trem me serviu de inspiração pra imaginar o Graciliano Ramos sendo enviado pra Ilha Grande, quando li Memórias do Cárcere.



Amos Oz

O Centro da Cultura Judaica está promovendo uma mostra audiovisual israelense e, no domingo (28), vai passar um documentário sobre o Amos Oz!

Infos no site: http://culturajudaica.uol.com.br/

28/06
14h00 | Amos Oz
Direção Stelios Charalampopoulos - Israel 2008 ( Documentário - 52 minutos)
Sinopse: O diretor grego Stelios Charalampopoulos talhou à mão um atraente e íntimo retrato do aclamado iconoclasta israelense e internacionalmente celebrado autor Amos Oz, indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Filmado parte em Arad, Jerusalém, e parte em Salonica, Grécia, o filme rastreia o histórico pessoal de Oz: sua infância, sua adolescência num kibbutz onde conheceu sua esposa, o único editor de seus trabalhos, suas tragédias familiares, incluindo o suicídio de sua mãe e sua conseqüente inclinação em narrar crônicas familiares. Essa comovente obra permite ao espectador entrar no mundo de um dos mais expressivos defensores da co-existência e do processo de paz do Oriente Médio.
Local: Teatro | Idade: a partir de 14 anos

ps: tou terminando de ler, dele, a Pantera no Porão. Mas não consigo mais levar o livro muito a sério, sempre me lembro do tapa na pantera.
ps2: falando em Oriente Médio, ontem aluguei (mas ainda não vi) Persepolis.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Zazie no metrô (3)

Ok. Desisti de pitacar esse livro. Sei lá... Deu preguiça e uma louca falta de tempo, culpa do fim do semestre. E eu acho que aquele livro não era pro meu bico. Quer dizer, eu gostei e tal. Mas não consegui acompanhar a crítica ao final que afirmou que a Zazie disse apenas uma frase mítica durante todo o livro. Ainda bem que ele disse qual era, senão eu ia ficar procurando referência a Zeus ou a Baco.

Anyway. Depois dos prazos de entrega de seminários, resumos e trabalhos eu tento dar pitaco em mais algum livro. No more Zazie. Ou, como diria ela, pitaco na Zazie o caralho.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Zazie no metrô (2)

Zazie no metrô - Cosacnaify, 2009 - págs. 7 a 16

Bom, vamos fazer, ao menos formalmente, o negócio bem feito. Obviamente, não demorei duas semanas para ler 11 páginas. Só resolvi limitar o primeiro pitaco ao primeiro capítulo. Já começa acabando com qualquer pretensão de ler o livro no original:

Dondekevemtantofedô (...)

Explico: o livro, aparentemente, trata da visita de uma, aparentemente, jovem garota, a Paris, em alguma época próxima aos anos 50, em algum lugar no subúrbio. As personagens são sapateiros, donos de bares, policiais, donas de casa... nada muito sofisticado. E a escrita acompanha o, digamos, desvio da língua culta. Daí que surgem palavras-expressões divertidas como aquela lá em cima. Coitado do tradutor. É nesses horas que dá aquela sensação de perda de não poder ler tudo no original, maldita torre de babel. Anyway, mais coitados ainda são os que traduzem Guimarães Rosa pra qualquer outra língua.

ok, vamos em frente.

Tem uma coisa fantástica sobre a França - bom, eu acho. A menina - Zazie - chega na estação de trem e é apanhada pelo tio Gabriel e por um amigo deles, o Charles. Vão no táxi do Charles e resolvem parar para tomar um aperitivo. Afora a parte em que a Zazie pede uma cacocalo (ah, eu adoro dizer cacacola), eu achei fantástico eles tomarem um bejolé (Beaujolais). Isso me lembra que uma vez eu estava lendo um livro que falava sobre o alto índice de alcoolismo entre os trabalhadores de minas na França, pois, depois do trabalho, era comum o consumo (excessivo) de vinho. Aí vinha uma nota do tradutor esclarecendo que o livro relatava algo que acontecia na França, onde beber vinho é comuníssimo em todas as classes sociais. Achei o máximo o tradutor ter feito essa ressalva. E adorei a desglamourização do vinho: o negócio é ser somelière de água.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Abandono

Então, eu não esqueci este blog e nem o livro, que tenho lido aos pouquinhos. Já estou no capítulo 9, vou voltar um pouco na leitura pra dar os pitacos. O problema é esse fim de semestre que me toma o tempo livre com baboseiras acadêmicas. Enfim, no fim de semana eu escrevo alguma coisa aqui.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sistema Municipal de Bibliotecas

Depois de 6 anos passando na frente da Biblioteca Mario de Andrade eu finalmente resolvi me inscrever (tá, eu ainda não fui lá, mas já separei o comprovante de residência). E agora que eu descobri a maravilha que é o google reader, fico por dentro das novidades da prefeitura e volta e meia aparece algum evento legal.

Ah, eu tava escrevendo isso pra deixar o link do Sistema Municipal de Bibliotecas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Zazie no metrô

Bom, eu tava decidida a escolher um livro de autor brasileiro. E ia escolher hoje. Tudo bem que ontem eu terminei de ler o do Daniel Galera, mas eu tinha em mente algo mais clássico pra fins de dar pitaco. Além disso, acho que faz uma cara que eu não leio algo decente feito por aqui. Mas aí eu ganhei um livro, eu nem tava esperando... E o livro é tão bonitinho, é uma edição comemorativa, meio artística - é verdade que as páginas são beeem molengas e isso pode ser um incômodo. Mas parece que já veio embrulhado pra presente! Vai ser esse mesmo. E já garanti que não é sobre livros, dá pra ver a resenha clicando no ícone à direita.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (fim)

Terminei de ler o livro há uns 4 dias. Não vim imediatamente dar pitaco na parte final por dois motivos: (1) minha primeira reação foi de espanto, aquela surpresa que faz a gente pensar: putaqueopariu, que livro fantástico; (2) seguindo essa sensação, veio uma onda de depressão e de nostalgia e eu fiquei com raiva de não ter prestado mais atenção e eu me senti incapaz de fazer qualquer pitaco finalizante. 

Anyway, vamos ao que interessa: na minha edição (Cia das Letras, 2003), há um apêndice com uma espécie de explicação feita pelo próprio Calvino sobre este livro e sobre as personagens principais, o leitor e a leitora. Ele assume (este texto é uma resposta a uma crítica, feita por Angelo Guglielmi) que a leitora foi criada para seduzir o leitor (não o personagem, o leitor de verdade...mas também seduz o leitor personagem...), sendo mostrada como alguém que ama a literatura, que está interessada no turbilhão de emoções que um texto pode provocar :

-Os romances que mais me atraem - disse Ludmilla - são aqueles que criam uma ilusão de transparência ao redor de um redemoinho de relações humanas tão obscuro, cruel e perserso quanto possível. (pág. 197)

Ou

Para essa mulher - continua Porphyritch, vendo com quanta atenção você lhe bebe as palavras -, ler significa despojar-se de toda intenção e todo preconceito para estar pronta a captar uma voz que se faz ouvir quando menos se espera, uma voz que vem não se sabe de onde, de algum lugar além do livro, além do autor, além das convenções da escrita: do não-dito, daquilo que o mundo ainda não disse sobre si e ainda não tem as palavras para dizer. (p. 243) 

E isso seduz o leitor (e eu confesso que comigo funcionou) porque ele se identifica com a leitora, se vê reconhecido e cúmplice. É verdade que essa constatação tira um pouco da magia do negócio, mas isso logo se supera.

Isso é tudo o que eu consigo falar. O último capítulo é emocionante: para um leitora meio desatenta como eu, a demonstração do modo como os capítulos de costuram foi incrível: eu até diminui a velocidade da leitura quando percebi o que estava acontecendo, sabem, pra não perder nadinha de nada. 

Pronto, esse foi meu primeiro pitaco. O livro foi escolhido ao acaso, mas foi bem adequado... De qualquer maneira, sem mais livros sobre livros por enquanto...

domingo, 10 de maio de 2009

Sobre Roderer

Em tempo: terminei de ler esse livro ontem. Lá pelas tantas identifiquei que o autor deveria ser argentino e que a história tinha sido escrita depois da guerra das Malvinas. E, depois de terminar, li a orelha e descobri que ele é matemático. Era previsível.

Nem curti muito.

Presentes

Meu primo me ligou ontem:
-- Diz uma coisa: tem algo que você esteja precisando que o seu primo te dê de presente? Uma roupa, um livro, tou rodando no shopping há duas horas...
(...)
Eu respondi:
-- Ah, se você quer resolver isso logo, um vale-presente de livraria vai me deixar feliz...

Mas a verdade é que é maaaais legal ganhar livros de presente. Ontem eu ganhei esse três aqui:

História de cronópios e famas, Julio Cortázar.

Até o dia em que o cão morreu - Daniel Galera.

E mais um, vindo direto de um sebo, sem capinha disponível na internet: Hospício é Deus, Maura Lopes Cançado.

O que eu mais gosto quando ganho livros é a sensação de intimidade. Assim: quando a gente dá pra outra pessoa um livro que gostamos, esperamos que ela goste também, que provoque nela as mesmas sensações que provocou na gente. E ninguém (bom, eu não faço isso) sai por aí dando o seu livro favorito de presente pra todo mundo. A gente escolhe.

sábado, 9 de maio de 2009

Duas canetas

Pra fazer justiça ao que escrevi nesse post aqui, segue trechinho de uma reportagem em que o Amos Oz fala sobre seus textos literários e políticos:

One way he marks the separation between the two forms of writing is by using two kinds of pen, one blue, the other black, that sit on his desk in the book-lined study of his home in this quiet desert town.

“I never mix them up,” he says of the pens. “One is to tell the government to go to hell. The other is to tell stories.”


fonte: NYT

É claro que o homem está anos-luz na minha frente.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Pra quem cansou da livraria Cultura...

Tá, não dá pra cansar pra sempre da livraria Cultura. Mas chega uma hora em que o eixo Paulista-Vila Madalena deixa a gente meio entediado... Deixando de lado as minhas razões off the record para não ser mais habituée da Cultura (que são muito diferentes das razões para evitar o Vegas e de natureza muito mais interessante, ok, nem é tão off the record), hoje eu descobri um lugar super bacaninha pra comprar livros e tomar café, perfeito pro domingo à tarde. O lugar se chama (eu acho...) Companhia da Leitura e fica na rua Vieira de Carvalho, 160 (isso eu tenho certeza), entre a praça da República e o Largo do Arouche. Apesar de não ter muito boa fama, essa rua é bonitinha, arborizada....A livraria tem uma parede de vidro e mesinhas que permitem ver o movimento na rua, livrinhos interessantes, tem até uma mesa redonda comunitária. O preço dos livros é o de livraria de bairro mesmo...

E como o penúltimo post eu escrevi ontem à noite, fiquei com a idéia fixa de ler um livro "no escuro". Perdoem a minha ignorância, mas eu não sei quem é Guilhermo Martinez. Gostei no nome, gostei do título e gostei da capa. Vai ser ele a cobaia.

É verdade que pelo nome do sujeito já dá pra ter idéia da onde ele é. Li umas 30 páginas e me fez lembrar muito o Mario Benedetti (tá certo que eu só li Quem de nós e pela metade) e um pouquinho o Guillermo Arriaga. Todos eles falam da amizade conturbada de dois adolescentes, sempre na voz do oprimido, enfeitiçado pelo outro, misterioso.

Se um viajante numa noite de inverno (5)

pag. 177 a 192

Este livro está me trazendo problemas. Tudo começou quando a Ludmilla se recusou a ir à editora com o leitor, por querer se manter afastada da produção dos livros, para ser apenas uma leitora. Ela não quer ter contato com escritores, gosta de pensar que os livros simplesmente nascem. Me pergunto se ela evita ler as orelhas dos livros, se lê sem ao menos saber da onde o autor vem e quando viveu. Nunca fiz isso, mas talvez seja um bom exercício. Eu poderia selecionar uns 3 livros de um autor cujo nome eu nunca ouvi antes e tentar descobrir quem e quando e onde... Mas o problema não parou aí. Ao visitar um escritor, a irmã de Ludmilla (Lotaria, anti-heroína total) pergunta a ele:

O que de fato é a leitura de um texto senão o registro de certas recorrências temáticas, certas insistências de formas e significados? (p. 191)

Foi nessa passagem que eu constatei a presença de um lapizinho verde na minha mão direita, sedento de trechinhos mencionáveis. Não que a leitura seja um prazer totalmente desinteressado. Aliás, sendo um prazer, por óbvio que há interesse (por isso a gente deixa de lado livros chatos e maçantes). Mas, me pareceu que o primeiro interesse, o da descoberta (Talvez a mulher que observo pela luneta saiba o que eu deveria escrever; ou talvez não o saiba, porque espera de mim justamente que eu escreva aquilo que ela não sabe, tudo o que ela sabe com certeza é sua espera, o vazio que minhas palavras deveriam preencher -p. 175) deixou de ser primeiro. E me angustiou pensar que não dá pra reler e tentar sentir o deslumbramento que o livro provavelmente pode provocar. Mas acho que muita coisa na vida é assim: até quando vi Guernica pela primeira vez numa gravura foi mais emocionante do que ver o mural em Madrid.

Não, não...estou sendo muito severa: ler Macunaíma pela segunda vez foi infinitamente melhor do que a primeira.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (4bis)

Se um viajante numa noite de inverno -Italo Calvino -Cia das Letras, 2003 - página 165 a 172

Como a obsessão do homem não se resume a papeizinhos que se multiplicam dentro de um canudo, tudo é refletido. Assim:

O plano da emboscada previa que entre as motos Honda que me escoltavam e o automóvel blindado em que eu viajava se introduziriam três motos Yamaha conduzidas por falsos policiais, que freariam bruscamente antes da curva. Segundo meu contragolpe, três motos Suzuki deveriam bloquear minha Mercedes quinhentos metros antes, simulando um sequestro. Quando vi meu carro acuado por três motos Kawasaki num cruzamento que precedia os outros dois, compreendi que meu contragolpe fora posto em xeque por um contracontragolpe cujo autor eu desconhecia.

Contracontragolpe é como metametalinguagem. Por algum motivo isso me lembra que toda vez que eu vejo a palavra prescinde eu preciso traduzi-la para "não precisa".

Se um viajante numa noite de inverno (4)

Se um viajante numa noite de inverno -Italo Calvino -Cia das Letras, 2003 - página 165 a ...

Li, li, ontem à noite. Só um capítulo: numa rede de linhas que se entrecruzam. Primeiro cumpre esclarecer o que eu deixei de falar, tendo lido tantas páginas que ficaram sem pitaco. Este livro é muitos livros, lidos pelo o que podemos chamar de personagens do livro principal. São trechos de livros que se confundem, não há o começo, meio e fim tradicionais. Este capítulo, em especial, é a narrativa de um homem sobre a sua obsessão por espelhos e caleidoscópios, por reproduzir imagens e reproduzir a reprodução, sem que se saiba, ao fim, o que é real e o que é simulação.  SPOIL - Me lembrou As ruínas circulares do Borges. Tenho mais uma coisa a dizer sobre isso, mas preciso ver a marcação que eu fiz. À noite eu volto.

domingo, 3 de maio de 2009

Parêntesis ainda...

Vou terminar de arrumar meu quarto hoje eu vou retomar a leitura do Calvino. Vou me justificar: há alguns meses passei a ter o hábito de passar semanas com a leitura interrompida e só voltar a ler quando o momento me parece adequado. É neste passo que está "A pantera no porão", do Amós Oz. Aliás, nem é muito bom. Acho que ele se dá melhor escrevendo ficções sobre relacionamentos antre homens e mulheres (Não diga noite, A caixa preta) e escrevendo não-ficções no jornal sobre Israel e Palestina. Assim como eu sou muito melhor em sonhar baboseiras do que tentar reescrevê-las de forma intelegível (deixam de ser baboseiras, mas também deixam de ser interessantes).

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Parêntesis

Voltei, li muito do livro, mas não tudo. Faço parêntesis porque não sei dizer quais as páginas lidas, quero ser metódica e organizada. Mas vou confessar: comprei outro livro no meio do caminho, pus o Calvino de lado e só parei de ler o novo quando me toquei que ele merecia seu próprio pitaco. Além do mais, eu estaria sendo desorganizada. De qualquer maneira, devo fazer algo bem típico dos comunistas e me autocriticar: não tenho certeza de que o Calvino tenha sido a melhor escolha para começar este blog, é um livro que fala sobre livros e metalinguagem me deixa confusa. Agora, me meti numa metametalinguagem. Ontem à noite  queria ter vindo escrever, mas não me atrevi... só o faço agora porque o livro está perdido em algum canto do meu quarto, muito longe de onde estou, a desculpa perfeita para os parêntesis...

sábado, 4 de abril de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (3)

Se um viajante numa noite de inverno -Italo Calvino -Cia das Letras, 2003 - sem progressos

Direto do avião, passando a limpo o caderninho: Esqueci de me sentir isolada, já se passaram mais de 8 horas de voo e só agora, olhando para o mapinha eletrônico, me toquei que estou incomunicável... mas não isolada: o italiano aqui perto não me deixa esquecer que existo e olha constantemente para cá - não sei se é para me ver ou se para checar se abri a janelinha e ele vai poder ver as nuvens branquinhas...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (2)

Se um viajante numa noite de inverno -Italo Calvino -Cia das Letras, 2003 -Páginas 18 a 25

Eu ia recomeçar a leitura apenas no avião, mas me deu coceirinha de ler antes de dormir. Só um pouquinho...
Quando eu viajo, eu gosto de parar em algum lugar -de preferência bem no meio de uma praça - e pensar que não estou em São Paulo. Perceber que o meu corpo está em um lugar incomum e não-familiar, como nas aulas de yoga em que a professora dizia que devíamos prestar atenção em tudo o que fazíamos, nos mínimos movimentos, de modo a termos consciência do nosso corpo. Eu fiz isso tomando café da manhã, um dia. É esquisito. 
Bom, voltando. Eu pensei nisso tudo por causa de um trechinho (p.24):

Inútil dizer-me que não mais existem cidades de província, que elas talvez nunca tenham existido, que todos os lugares se comunicam uns com os outros instantaneamente, que a idéia de isolamento só pode ser experimentada durante o trajeto de um lugar ao outro, isto é, quando não se está em lugar nenhum.

Mas, uma vez, eu estava sozinha na Alemanha e enviava e-mails para meus pais com os meus prováveis passos, do tipo: amanhã em Hamburgo, depois em Berlim... Em Hamburgo, contudo, não encontrei lugar para ficar e tive que viajar até Lubeck. Passei uns bons 2 dias lá sem acessar internet, comendo marzipan e me sentindo isolada.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Se um viajante numa noite de inverno - Italo Calvino

Precisava de um livro para ler no avião, para passar as aterrorizadoras 10 horas dentro de uma avião, que toda vez me fazem prometer que eu não volto mais pro Brasil e que só vou viajar de trem. Pensei: não posso levar só o livro-obrigação (Classes e conflito de classe na sociedade industrial, em espanhol porque era só essa versão que estava barata no sebo), também tenho que levar um livro prazer. Faltava só 3 páginas para terminar o último ( De verdade, Sandor Marai, que um dia ganhará seu pitaco na internet), precisava escolher um novo. Na frente da estante, selecionei Palmeiras Selvagens do Faulkner, e esse do Italo Calvino. Como decidir?

1. Faulkner: livro começado e não terminado, está na fila do recomeço há meses, é triste, tem jeito de ser triste, tem a capa cinza, uma vez teve uma capa de papel com uma foto, mas foi perdida. Foi um presente de uma pessoa querida, um presente meio sem momento, um daqueles "eu li, pode ficar para você".

2. Calvino: lembranças do cavaleiro inexistente, é cubano-italiano e chama Italo, parece de propósito. É o favorito - ou quase favorito - de alguém que já passou e levou uma parte de mim. O Italo é cúmplice! Eu deveria levar algo do Borges. Sim, esse foi o embate: Borges e Calvino. Me fez ler "Os amores difíceis". Não, não...não é certo culpar o Italo. Li a contracapa: ele contém histórias de amor, suspense, conflito, mistério, erotismo, filosofia, guerra, realismo fantástico. Antes, fala que é uma obra prima de humor. Nâo há nada que me atraia mais em uma contracapa do que as palavras erotismo e humor juntas. Pronto. Dei uma chance, li o primeiro capítulo, li assim, meio com má vontade, jantando comida requentada (mas era camarão, então tudo bem). Pronto, é o que vai. Se uma viajante numa noite de outono. Amanhã vou viajar à noite. E, em tese, já é outono.


Não vou dar pitaco agora. Nem sei se darei pitacos online nos próximos 20 dias. Mas vou anotando tudo no meu caderninho, à moda antiga e, se eu voltar, publico por aqui...