quinta-feira, 7 de maio de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (5)

pag. 177 a 192

Este livro está me trazendo problemas. Tudo começou quando a Ludmilla se recusou a ir à editora com o leitor, por querer se manter afastada da produção dos livros, para ser apenas uma leitora. Ela não quer ter contato com escritores, gosta de pensar que os livros simplesmente nascem. Me pergunto se ela evita ler as orelhas dos livros, se lê sem ao menos saber da onde o autor vem e quando viveu. Nunca fiz isso, mas talvez seja um bom exercício. Eu poderia selecionar uns 3 livros de um autor cujo nome eu nunca ouvi antes e tentar descobrir quem e quando e onde... Mas o problema não parou aí. Ao visitar um escritor, a irmã de Ludmilla (Lotaria, anti-heroína total) pergunta a ele:

O que de fato é a leitura de um texto senão o registro de certas recorrências temáticas, certas insistências de formas e significados? (p. 191)

Foi nessa passagem que eu constatei a presença de um lapizinho verde na minha mão direita, sedento de trechinhos mencionáveis. Não que a leitura seja um prazer totalmente desinteressado. Aliás, sendo um prazer, por óbvio que há interesse (por isso a gente deixa de lado livros chatos e maçantes). Mas, me pareceu que o primeiro interesse, o da descoberta (Talvez a mulher que observo pela luneta saiba o que eu deveria escrever; ou talvez não o saiba, porque espera de mim justamente que eu escreva aquilo que ela não sabe, tudo o que ela sabe com certeza é sua espera, o vazio que minhas palavras deveriam preencher -p. 175) deixou de ser primeiro. E me angustiou pensar que não dá pra reler e tentar sentir o deslumbramento que o livro provavelmente pode provocar. Mas acho que muita coisa na vida é assim: até quando vi Guernica pela primeira vez numa gravura foi mais emocionante do que ver o mural em Madrid.

Não, não...estou sendo muito severa: ler Macunaíma pela segunda vez foi infinitamente melhor do que a primeira.

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