sexta-feira, 15 de maio de 2009

Se um viajante numa noite de inverno (fim)

Terminei de ler o livro há uns 4 dias. Não vim imediatamente dar pitaco na parte final por dois motivos: (1) minha primeira reação foi de espanto, aquela surpresa que faz a gente pensar: putaqueopariu, que livro fantástico; (2) seguindo essa sensação, veio uma onda de depressão e de nostalgia e eu fiquei com raiva de não ter prestado mais atenção e eu me senti incapaz de fazer qualquer pitaco finalizante. 

Anyway, vamos ao que interessa: na minha edição (Cia das Letras, 2003), há um apêndice com uma espécie de explicação feita pelo próprio Calvino sobre este livro e sobre as personagens principais, o leitor e a leitora. Ele assume (este texto é uma resposta a uma crítica, feita por Angelo Guglielmi) que a leitora foi criada para seduzir o leitor (não o personagem, o leitor de verdade...mas também seduz o leitor personagem...), sendo mostrada como alguém que ama a literatura, que está interessada no turbilhão de emoções que um texto pode provocar :

-Os romances que mais me atraem - disse Ludmilla - são aqueles que criam uma ilusão de transparência ao redor de um redemoinho de relações humanas tão obscuro, cruel e perserso quanto possível. (pág. 197)

Ou

Para essa mulher - continua Porphyritch, vendo com quanta atenção você lhe bebe as palavras -, ler significa despojar-se de toda intenção e todo preconceito para estar pronta a captar uma voz que se faz ouvir quando menos se espera, uma voz que vem não se sabe de onde, de algum lugar além do livro, além do autor, além das convenções da escrita: do não-dito, daquilo que o mundo ainda não disse sobre si e ainda não tem as palavras para dizer. (p. 243) 

E isso seduz o leitor (e eu confesso que comigo funcionou) porque ele se identifica com a leitora, se vê reconhecido e cúmplice. É verdade que essa constatação tira um pouco da magia do negócio, mas isso logo se supera.

Isso é tudo o que eu consigo falar. O último capítulo é emocionante: para um leitora meio desatenta como eu, a demonstração do modo como os capítulos de costuram foi incrível: eu até diminui a velocidade da leitura quando percebi o que estava acontecendo, sabem, pra não perder nadinha de nada. 

Pronto, esse foi meu primeiro pitaco. O livro foi escolhido ao acaso, mas foi bem adequado... De qualquer maneira, sem mais livros sobre livros por enquanto...

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