quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

México Rebelde

Resolvi retomar esse bloguezinho tão bonitinho. Já vou confessar que estou lendo a coleção do Harry Potter e estou a-d-o-r-a-n-d-o. Li coisas interessantes de junho pra cá, mas não foram os livrinhos bolivianos. Um deles foi mencionado nesse post... mais de dois anos pra ler o Julio Cortazar, que vergonha. De certo modo, ele é um dos responsáveis pelo meu retorno.
Meu professor de francês disse que três livros mudaram o jeito que se faz literatura e eu ia escolher um deles pra ler. Mas, pensando bem...
Outro dia eu fui no sebo aqui do lado, cujo dono se chama Manuel, e pedi livros sobre o México. Livros históricos, de preferência. Não tinha nada muito bom, mas, como bom vendedor que ele é, me trouxe "México Rebelde", do John Reed. Literatura, né? Só que eu adoro os americanos, especialmente os comunistas. Escrevem muito bem. Pronto, decidido. Vai se esse daí o próximo pitaco, já me ajudando a preparar o espírito pras férias!
Em breve retorno com um post decente.

domingo, 5 de junho de 2011

Romance lives by repetition

Pronto, acabei! Acabei na sexta-feira, na verdade. Entre uma petição e mon doudou, li o último capítulo na internet. Agora vou ver os filmes.
Tinha feito uma seleção de passagens interessantes, em especial do capítulo sobre o livro que influencia (que envenena, talvez) a vida do Dorian e que poderia render um belo post sobre o poder da literatura em nossas vidas.... mas deu uma pregui... além do mais, já comecei a ler Infância, do Graciliano Ramos, o novo pitaco. Assim, abandonei Londres e estou muito bem alojada em Alagoas.
Nonetheless, a última lição do mestre Lord Henry:
--Romance lives by repetition, and repetition converts an appetite into an art. Besides, each time that one loves is the only time one has ever loved. Difference of object does not alter singleness of passion. It merely intensifies it. We can have in life but one great experience at best, and the secret of life is to reproduce that experience as often as possible.
--Even when one has been wounded by it, Harry? asked the duchess after a pause.
--Especially when one has been wounded by it, answered Lord Henry.

Fica aí pra vocês pensarem, eu vou pro frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes da meninice do meu adorado Graciliano.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Heaven and Hell

'Each of us has Heaven and Hell in him, Basil', cried Dorian, with a wild gesture of despair.
Tem coisas que nunca envelhecem, né? Essa história de maldade e bondade, da gente ter tudo dentro da gente (já falei disso aqui ó), um eterno médico e monstro. Acredito que todo mundo sente um certo alívio ao ler essa frase do Dorian, seja porque lhe reafirmaram o lado bom, seja porque lhe confirmaram um lado mau. Eu, como sou predominantemente boazinha, gosto de lembrar que posso ser malvada.
Voltando ao livro: noooooossaaaaaaaa!!!!! Não pude acreditar no que meus olhinhos leram, viu. Tem um assassinato, ok? Quem não quer saber de nada, para aqui. Para, para, para... tou avisando. Parou?
Então, o Dorian mata alguém e dá pra sentir a agonia dele com medo de ser descoberto, encontrando um policial logo depois do crime, ou com receio de responder às perguntar do Lord Henry sobre a noite anterior. Dá pra ver a culpa estampada na cara dele. Quer dizer, a culpa como ele supõe que esteja estampada. Uma vez eu ouvi o seguinte conselho: se você não consegue fazer algo, finja que consegue, vá lá e faça. O Dorian tinha que aprender: finge que não matou. Vou mandar um e-mail pra ele.
Ah, antes disso tudo acontecer, nosso querido amigo esteve no seu auge e eu separei trechinhos bacanas, mas posto mais pra frente.

domingo, 22 de maio de 2011

"We live in an age that reads too much to be wise, and that thinks too much to be beautiful"

Ao ler The picture of Dorian Gray fiquei com a impressão de já conhecer metade do livro, tantas são as citações do Oscar Wilde que passeiam pela internet e são apresentadas como máximas de sabedoria. O problema é que, como costumam aparecer fora do contexto, podem perder a ironia original e o leitor entende justamente o contrário. Ou as lê sem qualquer senso crítico.
Claro que a personagem mais interessante não é o Dorian Gray, mas o Lord Henry, um dândi cínico e hedonista - que me lembra tanto, mas tanto um conhecido meu que até dá arrepios - e claro que as "sacadas" dele são as mais citáveis: elas legitimam a busca pelo belo, pelo que dá prazer, pelo que dá prazer unicamente porque é belo:

It often happens thats the real tragedies of life occur in such an inartistic manner that they hurt us by their crude violence, their absolute incoherence, their absurd want of meaning, their entire lack of style. They affect us just as vulgarity affects us. They give us an impression of sheer brute force, and we revolt against that. Sometimes, however, a tragedy that possesses artistic elements of beauty crosses our lives. If these elements of beauty are real, the whole thing simply appeals to our sense of dramactic effect. Suddenly we find that we are no longer the actors, but the spectator of the play. Or rather we are both. We watch ourselves, and the mere wonder of the spetacle enthralls us.

E aí ele continua on and on sobre como é maravilhoso alguém ter se matado pelo Dorian e como ele nunca teve essa glória na vida e todo um discurso vazio sobre como a pobre da Sibyl Vane foi todas as heroínas de Shakespeare e jamais ela mesma e, por isso, nunca morreu - já que nunca realmente viveu.
Sem contar a misoginia do livro:

I'm afraid that women appreciate cruelty, downright cruelty, more than anything else. They have wonderfully primitive instincts. We have emancipated them, but they remain slaves looking for their masters, all the same. They love being dominated.

Suponho, já que eu pouco conheço OScar Wilde - além desse, que ainda tou lendo, só li The importance of being earnest -, que o prazer desse livro esteja em justamente ler e experimentar, indiretamente, os limites do culto à estética. Dorian, porque é tão bonito e charmoso, pode fazer coisas que nem o Lord Henry, nem nenhum de outros nós não tão belos, pode fazer. E quero só ver onde isso vai dar.

domingo, 8 de maio de 2011

The Picture of Dorian Gray

Eu juro que vou comentar. Até já selecionei um trechinho pra pitacar, o problema é que está lá looooonge no meu quarto. Mas amanhã eu volto com novidades. Não, terça-feira, amanhã eu apago 28 velinhas e não vou ter tempo pra isso daqui.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Bolívia


Ah, que felicidade que é juntar um cartão de crédito, câmbio favorável e a frustração de não ter descido a estrada da morte de bicicleta e descontar tudo em uma livraria perdida numa pasaje em La Paz....

Agora vou ser doutora em literatura boliviana. Nesse post vou apenas expor as minhs novas aquisições (inclusive uma coleçãozinha lindaaaaaa de poemas) e depois vou lendo e dando pitacos. Ah, sim, eu não fui preparada, então deixei o tio da livraria escolher todos os livros pra mim.

Romances

Adoro romances, adoro prosa, já disse isso em outro lugar. Fui logo pedindo algo contemporâneo e trouxe três:


Tem mais um: La máscara de Artemisa, de Georgette de Camacho, mas esse não encontrei na internet a capinha.

Contos

Contos podia ser uma coisa assim menos moderna. Contos populares são sempre divertidos, contos quechua, então, nem se fala. E, por fim, um altamente recomendado pelo moço que me ajudou.



Poesia

De poesia foram dois, ou 15. O primeiro, porque eu pedi especificamente uma poetisa, chama-se Las Moradas Transitorias, de Matilde Casazola, indisponível também na internet. O segundo, que é 14, é essa adorável coleção El hombrecito sentado. O problema é que nem pra escrever essas coisas eu tou com paciência, então não vai ser hoje que vou escrever nome e sobrenome de 14 poetas.


Só queria mesmo me gabar das minhas compras. Também trouxe uma tonelada de gorros, luvas, poncho e coisas feitas de lã de lhama.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um dia de chuva

Já vou dizendo que é possível que esse post seja considerado spoiler pelos mais sensíveis. Tá avisado.
Ganhei um mimo do Eça de Queiroz (sim, um mimo, se compararmos com as demais obras dele...), aparentemente saído do forno da CosacNaify:

Pois bem. Quando eu ganhei, me disseram que era uma história de amor do Eça, veja só que raridade, ele que quase não escreve histórias de amor. A bem da verdade, o excerto do comentário do Antonio Candido resume bem o conto:

Narrativa de atmosfera, cujo princípio estrutural é a surda competição entre a chuva que fecha o mundo e a imagem solar da moça que rompe as brumas.

Na minha ingenuidade, confesso que fiquei esperando o momento do encontro amoroso e, na minha incredulidade meio amarguinha, esperando que não correspondesse às expectativas do José Ernesto. Dupla frustração. Minha, não dele. Mas depois passou e eu me senti bem de ler uma história sem cinismo.

Além disso, tem uma Dona Manuela... Que eu imaginei como uma dessas portuguesas gordas, baixinhas e bigodudas, que se vestem todas de preto e ficam se abanando dizendo "Jesuscristinho, que caloire". Obviamente, ela não é a moça de imagem solar da história.

Por fim, o mimo é todo ilustrado:


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Homens e não

Como prometido, um post apenas para Homens e não, do Elio Vittorini. Vou ser sincera: comprei o livro mais pela parte que fala do "amor contrariado" do Ene2 e da Berta do que pelo "significado profundo de combater e morrer, o desumano que não está fora do homem, mas é do homem e a ele pertence".
E você vai lendo, claramente tomando partido dos resistentes, porque não tem quase nada mais bonito do que música/literatura/pintura sobre resistência a regimes que hoje sabemos ser totalitários, opressores e o diabo a quatro. E basta abrir meu volume I das obras completas do J. L. Borges para achar grifados os seguintes versos:

Hablan de humanidad.
Mi humanidad está en sentir que somos voces de una misma penuria.

Gosto tanto disso que já quis usar em uma petição. E, aí, você está lendo o livro, e tem aquela passagem que é tão cruel e tão violenta que até dá vontade de chorar, só de imaginar que aquilo possa ter apenas sido pensado por alguém, e sente uma raiva infinita dos alemães e acha que eles não são gente. Mas esse é o ponto em que erramos, ah, se é.

Presumimos que esteja no homem somente o que é sofrido, e que em nós é expiado. Ter fome. Isto dizemos que está no homem. Ter frio. E sair da fome, deixar pra trás o frio, respirar o ar da terra e tê-la, ter a terra, árvores, rios, trigo, cidades, vencer o lobo e olhar de frente o mundo. Isto dizemos que está no homem.
Ter Deus desesperado dentro, em nós um espectro, e um vestido pendurado atrás da porta. Também ter dentro Deus feliz. Ser homem e mulher. Ser mãe e filhos. Tudo isto sabemos, e podemos dizer que está em nós. Tudo que é chorar sabemos: dizemos que está em nós. E tudo que é a fúria, depois a cabeça baixa e chorar. Dizemos que o gigante está em nós.
Mas o homem pode também fazer como se nada existisse nele, nem sofrimento, nem expiação, nem fome, nem frio, e nós dizemos que não é homem.
Nós o vemos. É o mesmo que o lobo. Ele ataca e fere. E nós dizemos: isto não é o homem. Faz com frieza como faz o lobo. Mas isto exclui que seja homem?
Não pensamos senão nos ofendidos. Ó homens! Ó homem!
Mal acontece a ofensa, logo estamos com quem é ofendido, e dizemos que é homem. Sangue? Eis o homem. Lágrimas? Eis o homem.
E quem ofendeu o que é?
Nunca pensamos que também ele seja o homem. Que outra coisa pode ser? De verdade, o lobo?
Hoje dizemos: é o fascismo. Ou melhor: o nazifascismo. Mas o que significa ser o fascismo? Desejaria vê-lo fora do homem, o fascismo. O que seria? O que faria? Poderia fazer aquilo que faz se não estivesse no homem poder fazê-lo? Desejaria ver Hitler e seus alemães se aquilo que fazem não estivesse no homem poder fazê-lo. Desejaria vê-los procurando fazer. Tirar deles a possibilidade humana de fazê-lo e depois lhes dizer: Vamos, façam. O que fariam?
Uma ova, diz minha avó.
Pode ser que Hitler escrevesse aquilo mesmo que escreveu, e Rosenberg, ele também; ou que escrevessem cretinices dez vezes piores. Mas eu desejaria ver, se os homens não tivessem a possibilidade de fazer o que faz Clemm, pegar e despir um homem, dá-lo como comida aos cães, eu desejaria ver o que aconteceria no mundo com suas cretinices.

Eu gosto disso. Não do nazifascismo, claro. Mas de justapor as metades. Outro dia mesmo um amigo me dizia como lhe era difícil - e lhe fazia sofrer - combinar as idéias de que sua ex-namorada era uma boa pessoa, mas havia sido cruel com ele. O livro não explica e não dá nenhuma solução sobre como tudo isso pode ser o homem.
Aí, você volta na livraria e compra É isto um homem?, do Primo Levi, segue na linha nazifascimo na Itália e continua procurando respostas.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre italianos e promessas

Eu tinha perdido a Manon. Não sei, procurei por toda parte e, um dia, acordei e estava ali do meu lado. Vou retomar. Essa é a promessa.
Enquanto a Manon estava perdida, não me restou outra opção senão ler outro livro. E eu sabia que havia chegado o momento de finalmente ler O deserto dos tártaros, do Dino Buzzati. Para não passar a vida inteira esperando uma invasão que nunca chega.



Eu sei que cada um lê de um jeito e que os livros falam em línguas diferentes para diferentes leitores. Mas, se eu pudesse, eu mandaria imprimir trocentas mil cópias e distribuiria por aí, na esperança de que a leitura falasse à alma dos outros como falou à minha.
Como o livro não é meu, não pude fazer os grifos desejados: fotografei com o celufone uma passagem que gostei. É triste, mas o livro é triste inteiro. Por outro lado, o medo de ser engolido por toda aquela tristeza é que faz com que se queira se mexer, fazer qualquer coisa, qualquer coisa que não seja esperar.

Esse foi um italiano. O outro foi Elio Vittorini. Li Homens e não e até chorei.


Ok, vindo de mim não é sinal de muita coisa. Digo duas coisas: tem um diálogo amoroso que eu gostaria de ter tido (quem sabe ainda terei) e tem uma crueldade sem nome. E tem um vestido atrás da porta. Esse livro merece um post só pra ele, mas preciso pensar, não faz nem 3 horas que terminei de ler.
Esses foram os italianos.