domingo, 30 de agosto de 2009

Nem de Eva, nem de Adão

Ah, a delícia de ler um livro sem grandes pretensões (tanto o livro, quanto a leitura). Eu já tinha lido uma boa parte antes de parar e retomar a leitura desde o começo. Sabia, mais ou menos, qual era a passagem em que o japonês agarra a belga - é claro que essa é a minha parte favorita, eu nunca neguei esse tipo de coisa. Mas eu posso apontar um motivo particular desse romance: no capítulo em questão, a belga mergulha a mãozinha em uma espécie de gel inflamável, se melecando toda. Não consegue, porém, tirar o gel seco da mão, se corta com a faca. O japonês, então, resolve tirar o gel com os dentes. Segue:

Rinri ne se laissa pas démonter et racla jusqu'au bout. L'opération dura un temps infini pendant lequel je me pénétrai de labizzarrerie de la situation. Ensuite, en artisan perfectionniste, il nettoya mes doigts dans l'évier avec du détergent et une éponge abrasive.

Pra entender o que eu quero dizer, tentem visualizar.


sábado, 22 de agosto de 2009

Cartola, Chico e Amélie

Meu, se o Cartola tivesse escrito um livro eu lia. Eu estava agora, olhando pra estante, tentando escolher um livro pra ler (apesar das tristes pilhas de livros técnicos que me esperam em todos os cantos do meu quarto), desejando qualquer coisa que me desse a sensação que dá ouvir Cartola cantando Cartola. Na vitrola está tocando Mulheres de Atenas, então o Chico me pareceu uma alternativa. Aliás, eu nunca me canso de ouvir essa música. Eu até tenho uma teoria pra isso, mas fica pra outro post. Ai, tou confusa. Bom, não vou ler nada do Chico, porque já meio que li Budapeste e vi o filme e não tenho o outro e me recuso a comprar livros. Vou chegar mais perto da estante pra decidir.
(...)
Bem, não achei nada cartolante. Mas achei um livro da Amélie Nothomb que eu comprei em Portugal e que estava reservando para um momento propício. Nem de Eva nem de Adão (o livro está em francês, então vou ter que fazer umas traduções livres e vagabundas). Tem a ver com a música do Chico, mas como um oposto: fala do relacionamento da autora com um jovem em que "ninguém quer massacrar ninguém". Daí o título, nem de Eva nem de Adão...


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tirinha

Porque eu fiquei me remoendo de ter dito algo sério, agora preciso fazer um está-tudo-bem engraçadinho. Segue a última tirinha que me fez gargalhar lendo a Folha.


Pena que perde a graça depois da nona vez que você lê. Ah, mentira, não perde a graça nunca.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

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Nesses últimos 10 dias não pensei nesse blog. Desencanei do Beckett e devorei o Murakami. Devorei o fim do Murakami no avião, indo pra Brasília. Chegando lá tive vontade de comentar com as pessoas o livro, em especial uma passagem que eu havia grifado (grifei apenas duas). Mas eu não tive coragem, quando passei os olhos pela frase me pareceu que ter grifado aquilo dizia algo tão escuro sobre mim, até me deu vergonha. Depois me deu uma tristeza, e eu fechei o livro. Pensando melhor agora, talvez tenha sido um avanço. Talvez eu tenha mesmo fechado o livro pra me preservar. O que não significa que aquilo não esteja mais aqui dentro.

domingo, 9 de agosto de 2009

Museu da Língua Portuguesa

Ontem estive - finalmente - no Museu da Língua Portuguesa e ainda aproveitei pra comer milho no pratinho no parque da Luz. Nada mais fascinante do que descobrir que bunda e xoxota são palavras de origem africana e que cacique -pasmem - é de origem espanhola (juro que eu ainda não tou convencida disso). Enfim, é um lugar para ir muitas vezes, sozinho ou acompanhado, detendo-se mais ou menos na frente dos painéis, de acordo com a paciência do dia. O melhor emprego o mundo é o da pessoa que organiza a "performance" depois do filminho no terceiro andar e o destaque eu dou é pro arranjo musical que o Rappin' Hood fez pra um poema do Gregório Mattos. Mas eu não vou dar mais detalhes.

Primeiro Amor (2)

Eu sempre tive um jeito não muito prático de marcar minhas passagens preferidas: pequenas dobras no canto da página. Se a passagem está na parte final, a dobra é a no canto inferior e vice-versa. Eis que me deparo, depois de uns 3 dias sem ler o livro, com duas dobrinhas consecutivas (embaixo e em cima) e não sei do que se trata. O que acontece é o seguinte: sou extremamente sugestionável e, sabendo disso, seleciono leituras e livros de acordo com meu estado de espírito. Esse livro é muito duro, fala do amor como algo seco, olha só:

O que se chama amor é o exílio, com um cartão postal da terra natal de vez em quando, foi esse meu sentimento naquela noite.

Ou

Sim, eu a amava, é o nome que eu dava, que ainda dou, ai de mim, ao que eu fazia, naquela época. (...) Portanto eu era capaz, apesar de tudo, de dar um nome ao que eu fazia, quando me via de repente escrevendo a palavra Lulu numa bosta velha de novilha (...).

Alguns livros em primeira pessoa são sufocantes. Esse, com um personagem já reduzido à miséria material, só tem espaço para a análise da miséria espiritual do homem, se é que se pode usar esse termo de um modo secular. E esses dias, sabe-se lá a razão, se apoderou de mim uma espécie de serenidade e contentamento. Não sei se é um tipo de estoicismo que depois vai ter consequências perturbadoras no meu espírito habitualmente dramático. Com isso, a leitura do Beckett se torna mais difícil e até incômoda.
No fundo, essa dificuldade não é nada mais do que reflexo da minha tradicional incapacidade de lidar com certos meios-termos. Por isso, vou terminar esse conto (juro, eu tava quase desistindo), postar aqui e fazer o que me propus.

sábado, 1 de agosto de 2009

On the side

Um visitante mais atento terá visto que coloquei uma nova seção aí do lado, chamada On the side. Serve para informá-los do que eu leio (afe, que egocentrismo) além do habitual pitaco. E no ritmo que as duas leituras andam, esse blog deveria ser chamado de pitaco na leitura on the side.
Anyway. Uma vez eu li um texto do Umberto Eco (acho) sobre os livros que são mais comentados do que lidos. Sem dúvida Shakespeare estava no meio. Então, um dia, na biblioteca, ou, mais especificamente, na segunda cabine do banheiro da biblioteca departamental da FDUSP, li algo pichado na porta. Graças a Deus temos o google e eu pude descobrir, sem esforços, que se tratava de um trecho de Macbeth. E a esse trecho devo minha atual jornada (ainda que superficial) aos textos do Shakespeare.

Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.

William Shakespeare's Macbeth, from Act 5, Scene 5

E, sem surpresa, essa passagem me remete a uma autora que me é mais familiar:

It
seems then that men and women are equally at fault. It seems that aprofound, impartial, and absolutely just opinion of our fellow-creatures is utterly unknown. Either we are men, or we are women. Either we are cold, or we are sentimental. Either we are young, or growing old. In any case life is but a procession of shadows, and God knows why it is that we embrace them so eagerly, and see them depart with such anguish being shadows.
Virginia Wolf, Jacob's Room.