domingo, 9 de agosto de 2009

Primeiro Amor (2)

Eu sempre tive um jeito não muito prático de marcar minhas passagens preferidas: pequenas dobras no canto da página. Se a passagem está na parte final, a dobra é a no canto inferior e vice-versa. Eis que me deparo, depois de uns 3 dias sem ler o livro, com duas dobrinhas consecutivas (embaixo e em cima) e não sei do que se trata. O que acontece é o seguinte: sou extremamente sugestionável e, sabendo disso, seleciono leituras e livros de acordo com meu estado de espírito. Esse livro é muito duro, fala do amor como algo seco, olha só:

O que se chama amor é o exílio, com um cartão postal da terra natal de vez em quando, foi esse meu sentimento naquela noite.

Ou

Sim, eu a amava, é o nome que eu dava, que ainda dou, ai de mim, ao que eu fazia, naquela época. (...) Portanto eu era capaz, apesar de tudo, de dar um nome ao que eu fazia, quando me via de repente escrevendo a palavra Lulu numa bosta velha de novilha (...).

Alguns livros em primeira pessoa são sufocantes. Esse, com um personagem já reduzido à miséria material, só tem espaço para a análise da miséria espiritual do homem, se é que se pode usar esse termo de um modo secular. E esses dias, sabe-se lá a razão, se apoderou de mim uma espécie de serenidade e contentamento. Não sei se é um tipo de estoicismo que depois vai ter consequências perturbadoras no meu espírito habitualmente dramático. Com isso, a leitura do Beckett se torna mais difícil e até incômoda.
No fundo, essa dificuldade não é nada mais do que reflexo da minha tradicional incapacidade de lidar com certos meios-termos. Por isso, vou terminar esse conto (juro, eu tava quase desistindo), postar aqui e fazer o que me propus.

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