Ok, voltando ao livro. Na orelha dele tá escrito assim: Há escritores que escrevem grandes livros. Há outros, mais raros, que instauram mundos. William Faulkner pertence a essa linhagem. Eu pensei: Ah, não pode ser - não ele especificamente, mas a idéia de instaurar mundos. Aí eu cheguei no seguinte trecho:
A memória acredita antes de o conhecimento lembrar. Acredita um tempo maior do que recorda, um tempo maior até do que o conhecimento imagina. Conhece lembra acredita em um corredor num grande longo frio despojado ressonante edifício de tijolos vermelhos escuros enegrecidos pela fuligem de mais chaminés do que a sua própria, plantado num terreno atulhado de cinza espalhada sem grama rodeado de construções industriais fumacentas e cercado por uma cerca de aço e arame de três metros como uma penitenciária ou um zoológico, onde em vagas erráticas aleatórias, com chilreios infantis pardalinos, órfãos em idêntica e uniforme sarja azul dentro e fora da recordação mas no conhecimento constantes como as paredes soturnas, as janelas soturnas onde na chuva a fuligem das chaminés adjacentes de um ano rescava como lágrimas negras.
E aí eu vi a diferença que a orelha do livro mencionou. É como da vez em que eu vi uma exposição do Michel Kikoine com o Cèzanne na cabeça. Ou quando eu comprei a Vogue Paris com a coleção de inverno e entendi porque a Stella McCartney ou a Miu Miu são fashionzinhas enquando a Chanel e a Dior são fantásticas (mas isso eu já sabia pq vi O diabo veste prada e quase decorei o discurso da malvadona explicando como a alta costura define o que é vendido a baciada nas lojas de departamento).